quarta-feira, 16 de março de 2011

Metrô, São Paulo e cores



Ah, o metrô! Tenho verdadeira adoração por esse ambiente. Quase tanta adoração quanto tenho pela cinzenta cidade de São Paulo. Adoração sim, enquanto tantos adotam estruturas religiosas como templos de reflexão, sempre busquei nas estações a inspiração da qual precisava e, sem que pudesse entender o porque, sempre encontrei.

Foi em uma dessas buscas que me deparei com algo inusitado: próximo às catracas do metrô, um jovem tocava, em seu violino, uma valsa enquanto um casal de bailarinos o acompanhava com uma bela dança. Fiquei hipnotizada pela melodia, pelos movimentos sincronizados dos bailarinos e pelo fato de parecer ser a única a sentir-se daquela maneira.

Pessoas passavam sem se quer notar a presença dos artistas, seguiam seu percurso sem desviar o olhar. Pareciam robôs seguindo algum comando o qual não podiam desobedecer.

Passei então a incorporá-las (as demais pessoas) à cena, aumentando, pouco a pouco, o ângulo de visão. A união de sons, movimentos, cores – quantas cores!- e vidas fez daquele momento, um espetáculo. Esqueci porque chamava de cinzenta essa cidade.

Não havia nada de cinza em São Paulo. Questionei-me porque sempre atribui essa característica à cidade, porque nunca a vi como um lugar tão cheio de vida, porque nunca enxerguei além dos prédios e construções.

Não apenas de concreto é feita uma cidade, muito mais que isso, seus habitantes são fundamentais para determiná-la, caracterizá-la. Nós somos cinzentos, aceitamos a rotina como mecanismo automático e imutável. Somos nós que limitamos nossa própria visão, nos aprisionamos, nos alienamos.

Escravos do tempo, isso que somos. Não a cidade, não. A cidade tem vida, a cidade é generosa, abriga todo tipo de gente, a cidade não dorme.

Agora, corrigindo: Tenho verdadeira adoração por esse ambiente. Quase tanta adoração quanto tenho pela multicolorida cidade de São Paulo.





Sofia Menegon

Um comentário:

  1. Amiga, que texto maravilhoso e totalmente real!

    É comum escritores e fotógrafos se apaixonarem por esses ambientes, os espaços cotidianos. Onde a vida corriqueira se passa e ninguém tem tempo nem de olhar um pouquinho para o lado. Mas nós estamos lá para isso. Seja uma frase ou um clique... Ou somente contemplação. Não queremos nada além disso, olhar. Pra mim é como um efeito terapêutico mesmo... O tempo que passo nas estações, nos metrôs, nos ônibus e pontos, ouvindo e vendo a cidade se mover, prestando atenção nas histórias e boatos de todos! Faz-me agradecer e ser feliz com essa cidade maravilhosa!

    Outro dia mesmo, na estação de Santana, havia uma homem com um piano. Não sabia tocar, mas percebi que estava tentando Imagine, do John Lennon. Não é encantador?! Por não saber tocar... Estava ali justamente dando um banho n'alma, uma coisa linda... Creio que havia em torno de 10 pessoas ao lado dele.

    Aaah! Mas eu me apaixono cada dia mais pela cidade de São Paulo!!

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