terça-feira, 23 de novembro de 2010

É Natal!

E cada qual chegava a sua maneira...
 -         Não quero ouvir mais um piu!- disse a mãe que tentava fazer com que o filho parasse de chorar pelos presentes ainda depositados ao pé da grande árvore.
Mais a frente, um grupo de garotas, recém saídas da meninice, transbordavam extravagância em suas gargalhadas desmotivadas ao léu.
Uma senhora cuja idade já devia ter-lhe escapado a memória apoiava-se nos braços da neta que, impaciente, parecia arrastar a pobre velha.
O casal de jovens trocava carícias enquanto admiravam a beleza em cada detalhe de vida que apenas eles, apenas os apaixonados, conseguem ver.
Crianças! Ah, essas não paravam de correr o jardim. Quando se é criança todo segundo tem sabor de último, se brinca como se qualquer instante pudesse ser a “hora de ir para a cama”. Mas não esta noite.
As luzes piscavam em sincronia. Gargalhadas, lágrimas, abraços. Alguém anunciou:
-É Natal, é Natal!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Overdose

Acabo de ter uma overdose da qual não posso me queixar: uma overdose de sentimentos. Sentimentos juntos, misturados, confusos e organizados. Uma explosão de infinitas cores indistinguíveis,de incontáveis perfumes sutis e ultra voláteis,de imensurável dor, silenciosa, em exaspero. Não posso me queixar.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Lágrimas

Deixei um rasto de lágrimas por onde passei. Ouvi nossa música inúmeras vezes até que se esgotassem os soluços. Gritei teu nome, implorei por tua presença. Inspirei profundamente. Expirei. Suspirei.
A mesma leve brisa que movimentava tuas mechas quando nos conhecemos, invadiu meu quarto essa manhã e me trouxe teu perfume.
O perfume agiu como costumava: apegou-se a cada centímetro de matéria, a cada centímetro de não matéria.
Não me deixei esquecer, não me deixarei jamais. Em mim a memória do que vivemos terá sempre aconchego, estará sempre segura. Em mim tu terás sempre abrigo.
Aflige-me, apenas, que não tenhas percebido que todas as desculpas que criei para que fosses eram, em verdade, súplicas para que ficasses.
Acreditarei nas inverdades que acreditastes, quem sabe assim, as lágrimas não parem de deixar rastos, quem sabe assim eu não pare de esperar que os sigas. Quem sabe assim eu não volte à vida.

domingo, 7 de novembro de 2010

Partindo para a "adultescência"

Já está chegando, mas antes que eu me vá...
Antes que eu me vá, me lembre de dizer-te que as palavras de acre sabor que pronunciavas como corretivo, feriram-me o orgulho, mas tornaram-me resistente.
Antes que eu me vá, me lembre de explicar-te que os olhares de reprovação a cada movimento incerto que dirigias a mim, instigavam-me a revolta, mas tornaram-me cauteloso.
Antes que eu me vá, me lembre de contar-te que os castigos com os quais me punias, me exasperavam, mas tornaram-me paciente.
Antes que eu me vá, me lembre de mencionar que os soluços que engolias a seco e as lágrimas que aprisionavas apulso perante qualquer doença ou, até mesmo, angústia minha, amaciaram-me o coração, me fizeram sentir amada, tornaram-me alguém melhor.